Leia um fragmento do poema "Ode triunfal", de Álvaro de Campos, heterônimo do poeta modernista português Fernando Pessoa.
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!
[...]
Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!
Ser completo como uma máquina!
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto,
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento
A todos os perfumes de óleos e calores e carvões
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!
1. Identifique a apóstrofe presente no primeiro verso do poema, mostrando, por meio dela, a quem o sujeito poético se dirige.
2. Qual a função da onomatopeia, também presente no verso inicial do texto? Identifique-a e explique.
3. Que comparação presente na segunda estrofe demonstra a volúpia do ser humano moderno em relação à máquina? Por quê?
4. Identifique os versos da segunda estrofe nos quais se percebe a “erotização” da máquina, o reconhecimento do poder fálico da potência dos motores.
5. Destaque o substantivo presente no último verso do fragmento que permite a associação – tipicamente futurista – entre o mundo da máquina e a natureza, como se esse mundo tivesse se transformado numa segunda natureza para o ser humano.
GABARITO
1. A apóstrofe está em “Ó rodas, ó engrenagens”. Por meio dela, percebe-se que o sujeito poético se dirige às máquinas, às engrenagens, do mundo moderno.
2. A onomatopeia – “r-r-r-r-r-r-“ – mostra que o sujeito poético busca assimilar em seu verso a sonoridade das máquinas.
3. Trata-se da comparação entre o sujeito poético e a máquina. Essa comparação demonstra a volúpia do ser humano moderno em relação à máquina pelo fato de ele desejar ser como ela, de ele querer igualar-se a ela.
4. Trata-se dos versos de 4 a 7.
5. A palavra é flora.